Debate sobre o aborto movimenta o CineArte
Na noite do dia 24 de outubro o CineArte apresentou o curta “A Boneca e o Silêncio”, que contou com a presença da idealizadora e diretora do filme, Carol Rodrigues, e do produtor Lucas Vieira. Após a exibição houve um debate sobre o aborto, tema abordado na produção nacional. “Gostei muito do filme e espero que a Carol possa voltar outras vezes para nos apresentar trabalhos como esse, que são muito construtivos e nos ajudam a tratar de um assunto tão polêmico e delicado”, comentou Rose Prado, diretora do Sindicato dos Metalúrgicos.
O filme retrata a vida de Marcela (Morgana Naughty), uma jovem adolescente da periferia de São Paulo que passa por uma gravidez inesperada e, por conviver em uma família desestruturada, opta pelo aborto. A produção levou recentemente o prêmio de melhor filme pela votação do público e do júri no 8 º Entretodos – Festival de Curtas de Direitos Humanos.
Carol Rodrigues contou que a ideia de fazer o curta surgiu a partir de um conto escrito por ela em 2007, mas que só em 2012 foi adaptado para servir de roteiro. “à‰ uma mistura das minhas experiências entre a família e os amigos, com algumas histórias que tive contato dentro do movimento feminista. A Marcela é uma síntese de várias mulheres-meninas que passaram por isso.”
O produtor Lucas Barão comentou sobre os cuidados que foram necessários para que o filme, produzido por homens, pudesse abordar um assunto feminino. “O primeiro passo foi criar um ambiente onde a Carol pudesse se sentir a vontade e plena para trabalhar, não somente ela, mas todas as mulheres envolvidas como a diretora de arte, fotógrafa, atrizes, etc. Claro que não restringimos o gênero, mas criamos um ambiente onde foi respeitado o ambiente feminino”, explicou ele.
Hoje, somente no Brasil, são realizados mais de um milhão de abortos por ano. Isso faz com que milhares de adolescentes percam a vida ao fazer o procedimento sem nenhum acompanhamento médico, já que os custos são muito elevados para o tratamento adequado em clínicas especializadas.
Em meio ao debate falou-se sobre a legalização e a descriminalização do aborto, usando como referência o Uruguai onde a prática é legal e tem total respaldo do sistema público de saúde. Ao contrário do que pensa, esta atitude fez com que o número de abortos caísse pela metade no país.
Marlene Alves da Costa, da Marcha da Consciência Negra Jundiaí, também esteve presente no debate e comentou sobre a importância de expor um assunto tão polêmico e problemático. “Cada vez mais vemos necessidade de abordar este tema que vai muito além de ser contra ou favor, mas que acima de tudo trata da segurança e saúde da mulher.”